No campo da restauração oral, os implantes dentários trouxeram uma nova esperança a muitos pacientes perturbados pela perda ou extração de dentes. Muitas vezes considerados o "substituto perfeito" para dentes em falta, os implantes ajudam as pessoas a recuperar um sorriso confiante e uma função oral normal. No entanto, a peri-implantite - uma condição inflamatória - ameaça frequentemente e de forma silenciosa a saúde destes implantes.
Quando a doença peri-implantar ocorre, significa que os tecidos moles que rodeiam o implante foram infectados e estão a começar a deteriorar-se. Os doentes podem sentir dor, inchaço e até dificuldades em morder e mastigar. Sem intervenção e tratamento atempados, o risco de fracasso do implante aumenta significativamente, tornando inúteis todos os esforços e expectativas anteriores.
A peri-implantite está normalmente associada a uma má higiene oral, tornando essencial uma limpeza eficaz em redor do implante. Na prática clínica, os dentistas recorrem frequentemente a uma ferramenta especializada, conhecida como escova de titânio, para limpar à volta dos implantes. Esta ferramenta ajuda a controlar a progressão da inflamação e restaura a saúde oral.
Então, como é que podemos limpar a peri-implantite de forma científica e eficaz? Vamos explorar juntos as técnicas e os métodos corretos.
O que é a mucosite peri-implantar?
A mucosite peri-implantar representa a fase inicial na progressão das doenças peri-implantares - tal como a gengivite é a fase inicial da doença periodontal. Nesta fase, o tecido mole que rodeia o implante fica infetado, mas o osso subjacente ainda não foi afetado.
Em comparação com a condição mais avançada de peri-implantite, a mucosite peri-implantar é geralmente mais fácil de tratar. Com bons hábitos de higiene oral e limpezas dentárias profissionais regulares (como a destartarização e o polimento), os doentes podem prevenir eficazmente o aparecimento desta doença ou controlá-la nas suas fases iniciais, evitando assim uma maior deterioração.
No entanto, é importante reconhecer que os implantes dentários têm uma resistência significativamente menor aos danos induzidos pelo biofilme em comparação com os dentes naturais. O biofilme é uma camada complexa de microrganismos, como as bactérias, que se forma na superfície dos dentes ou implantes e corrói continuamente os tecidos orais circundantes. Por conseguinte, quer tenha implantes ou dentes naturais, a prevenção de doenças peri-implantares e periodontais é crucial.
Só através de cuidados preventivos diligentes é que podemos garantir que tanto os dentes artificiais como os naturais permanecem saudáveis, estáveis e capazes de nos servir bem a longo prazo.
Qual é a frequência da peri-implantite?
A prevalência efectiva da peri-implantite não é um valor fixo, uma vez que varia consoante as caraterísticas da população estudada e os critérios de diagnóstico utilizados para definir a doença. No entanto, com base em vários estudos de investigação, estima-se que a prevalência global seja de cerca de 20%.
Certas populações correm um risco significativamente maior de desenvolver peri-implantite. Por exemplo, os fumadores são mais vulneráveis devido às substâncias nocivas do tabaco, que afectam negativamente o ambiente oral e enfraquecem o sistema imunitário. Os doentes com diabetes também são mais propensos a esta condição, uma vez que os desequilíbrios metabólicos podem prejudicar a cicatrização dos tecidos e reduzir a resistência à infeção. Além disso, os indivíduos que são submetidos a um exame clínico inadequado podem não detetar os primeiros sinais de alerta, permitindo que a doença progrida sem ser detectada.
É particularmente digno de nota o risco acrescido entre os pacientes com implantes dentários de longa duração. Como os implantes permanecem na boca ao longo dos anos, vários factores biológicos e mecânicos acumulam-se, colocando os tecidos circundantes sob maior stress e aumentando a probabilidade de peri-implantite.
O que causa a peri-implantite?
A peri-implantite está frequentemente associada a uma má higiene oral. Quando a manutenção da saúde oral é inadequada, as bactérias podem acumular-se abaixo da linha da gengiva, formando placa dentária e biofilmes. Estas bactérias descontroladas conduzem a infecções e respostas inflamatórias nas gengivas e na mucosa oral que rodeia o implante.
Para além de uma higiene inadequada, vários outros factores aumentam significativamente o risco de peri-implantite:
- Fumar: O consumo de tabaco afecta negativamente a circulação sanguínea nas gengivas, reduzindo o fluxo sanguíneo e prejudicando a saúde dos tecidos. Os fumadores são mais propensos à acumulação de placa bacteriana, o que aumenta ainda mais o risco de infeção e inflamação à volta dos implantes dentários.
- Diabetes: Os doentes com níveis de açúcar no sangue mal controlados têm frequentemente uma circulação reduzida e uma cicatrização de feridas prejudicada. Isto enfraquece a capacidade do organismo para combater as infecções, tornando os tecidos à volta dos implantes mais vulneráveis à inflamação.
- Imunossupressão: Os indivíduos com sistemas imunitários comprometidos - como os portadores de VIH/SIDA ou submetidos a tratamentos contra o cancro - correm um risco mais elevado, uma vez que os seus corpos são menos capazes de se defenderem contra os agentes patogénicos que causam a doença peri-implantar e periodontal.
- Colocação incorrecta do implante: O posicionamento incorreto do implante ou a insuficiência do suporte ósseo circundante podem tornar o local mais suscetível à invasão bacteriana e à inflamação.
- Força oclusal excessiva: A sobrecarga do implante através da mastigação frequente de alimentos duros ou de forças de mordida anormais pode levar a micro-fracturas na superfície do implante. Estas micro-danos servem de terreno fértil para as bactérias e aumentam o risco de infeção.
- Coroas ou restaurações mal ajustadas: Os componentes protéticos desalinhados ou mal ajustados podem irritar os tecidos peri-implantares, causando inflamação e, em última análise, levando à peri-implantite.
- Faltar a consultas de seguimento: O acompanhamento regular com um periodontista ou dentista é essencial após a cirurgia de implantes. A falta destes controlos pode permitir que pequenos problemas passem despercebidos e se transformem em infecções peri-implantares graves.
Sintomas comuns de peri-implantite
A peri-implantite é uma complicação potencial após a cirurgia de implantes dentários que pode ameaçar a estabilidade do implante a longo prazo e a saúde oral geral do doente. O reconhecimento precoce dos sintomas é fundamental para uma intervenção rápida. Segue-se uma descrição pormenorizada das manifestações clínicas comuns:
Sintomas gengivais
- Inchaço ou vermelhidão: Um dos sinais mais visíveis da peri-implantite é a inflamação gengival à volta do implante. As gengivas saudáveis são tipicamente cor-de-rosa, firmes e aderem bem ao implante ou à superfície do dente. Em contraste, as gengivas inflamadas parecem inchadas, ingurgitadas e vermelhas ou vermelho-escuras devido à vasodilatação, ao aumento do fluxo sanguíneo e à fuga de fluidos em resposta à inflamação.
- Descarga de pus (supuração): À medida que a doença progride, pode formar-se um abcesso à volta do implante, levando à descarga de pus. Os doentes podem notar secreções purulentas quando escovam os dentes, se enxaguam ou comem. Por vezes, a descarga é acompanhada por um odor desagradável. Isto ocorre quando as células imunitárias e os tecidos sofrem necrose e liquefação durante a luta do organismo contra a infeção.
- Dor ou sensibilidade: Os pacientes podem sentir dor ou sensibilidade nas gengivas que rodeiam o implante, particularmente durante a mastigação, escovagem ou quando a área é tocada. A intensidade da dor varia - alguns podem sentir apenas um ligeiro desconforto, enquanto outros sofrem de dor intensa que interfere com as actividades diárias. Isto deve-se à estimulação das terminações nervosas no tecido gengival inflamado.
Odor oral
- Mau hálito (halitose): A peri-implantite está frequentemente associada a um mau hálito percetível. Este mau hálito é causado pela proliferação de bactérias que decompõem restos de comida e proteínas na cavidade oral, produzindo compostos voláteis de enxofre e outras substâncias mal cheirosas. O odor pode não ser aparente para o paciente, mas pode ser detectado por outras pessoas, afectando potencialmente as interações sociais e a autoestima do paciente.
Alterações na estabilidade dos implantes
- Mobilidade dos implantes: A mobilidade dos implantes é um sintoma mais avançado de peri-implantite. Normalmente, os implantes estão osseointegrados e firmemente ancorados no osso maxilar. Contudo, a inflamação pode levar à destruição do osso de suporte, resultando numa perda de estabilidade. Os doentes podem sentir que o implante se desloca ao mastigar e, em casos graves, o implante pode mover-se visivelmente com uma ligeira pressão.
Perda óssea
- Defeitos ósseos ou reabsorção: A peri-implantite grave pode causar uma perda óssea significativa à volta do implante. Os exames radiográficos, como as radiografias ou a CBCT (Tomografia Computorizada de Feixe Cónico), podem revelar uma densidade óssea reduzida, uma estrutura trabecular alterada e até defeitos ósseos visíveis. Esta perda de suporte ósseo compromete ainda mais a estabilidade do implante e aumenta o risco de falha do implante.
Quais são as opções de tratamento para a peri-implantite?
O tratamento da peri-implantite inclui principalmente o desbridamento mecânico e a terapia antimicrobiana. Em casos mais avançados, pode também ser necessária uma intervenção cirúrgica. Segue-se uma descrição pormenorizada dos métodos de tratamento mais comuns:
Desbridamento mecânico
Princípio: São utilizados instrumentos especializados para remover a placa dentária, o cálculo e o tecido de granulação inflamado da superfície do implante e dos tecidos circundantes. Isto elimina diretamente as fontes de irritação, reduz os mediadores inflamatórios e promove a cicatrização e regeneração dos tecidos.
Ferramentas comuns:
- Escovas de titânio: Utilizadas por periodontistas em ambientes clínicos, estas escovas removem eficazmente a placa bacteriana e o cálculo da superfície do implante e dos tecidos circundantes.
- Escaladores ultra-sónicos: Utilizam vibrações de alta frequência para quebrar e remover depósitos de cálculo.
- Curetas manuais: Permitem uma limpeza mais precisa da superfície do implante e das bolsas periodontais infectadas.
- Abrasão por ar (jato de areia): Oferece uma boa eficiência de limpeza. No entanto, o material abrasivo afecta tanto os resultados da limpeza como a rugosidade da superfície. Por exemplo, o bicarbonato de sódio de partículas grandes é eficaz, mas aumenta significativamente a rugosidade da superfície.
Terapia antimicrobiana
Colutório antibacteriano:
- Gluconato de clorexidina: Um enxaguamento bucal antimicrobiano comummente utilizado para a peri-implantite. Uma solução de 0,12% pode reduzir efetivamente o risco de inflamação peri-implantar através da inibição da colonização bacteriana. No entanto, uma concentração de 2% pode inibir irreversivelmente a migração celular e reduzir significativamente a viabilidade de fibroblastos, mioblastos e osteoblastos in vitro - o que requer mais investigação sobre segurança e eficácia.
- Outros elixires bucais: Podem ser utilizados enxaguantes compostos de bórax, formulações combinadas de clorexidina, etc., sob a orientação de um dentista.
Géis tópicos:
Pomada de cloridrato de minociclina: Pode ser aplicado localmente ou injetado no local afetado para ajudar a eliminar as bactérias e controlar a infeção.
Medicamentos orais:
Para infecções mais graves, podem ser prescritos antibióticos sistémicos, como o Metronidazol, Tinidazol, Amoxicilina ou Roxitromicina. Estes só devem ser tomados sob controlo médico profissional.
Tratamento cirúrgico
Indicações: Quando a peri-implantite é grave e os tratamentos não cirúrgicos controlaram a infeção, mas os defeitos do osso alveolar permanecem, podem ser necessários procedimentos cirúrgicos.
Técnicas cirúrgicas comuns:
- Osteoplastia (Recontorno ósseo): Remodela o osso alveolar danificado para apoiar a cicatrização.
- Enxerto ósseo: Preenche áreas de perda óssea para estimular a regeneração óssea.
- Cirurgia de retalho com desbridamento: Envolve a elevação do retalho gengival para remover o tecido infetado e a aplicação de biomateriais para preservar a densidade óssea e promover a proliferação celular na área do defeito.
- Regeneração de tecidos guiada (GTR): É colocada uma biomembrana sobre o defeito ósseo para evitar a invasão dos tecidos moles, proporcionando um espaço para a formação de novo osso.
- Remoção do implante: Em casos de destruição óssea extensa e mobilidade do implante, pode ser necessária a remoção cirúrgica do implante.
Como prevenir a peri-implantite
A prevenção da peri-implantite requer cuidados abrangentes, incluindo higiene oral diária, ajustes de estilo de vida saudável e acompanhamento profissional regular. Aqui está um guia pormenorizado:
Higiene oral diária
Técnicas de escovagem corretas
- Escolher a escova de dentes correta: Utilize uma escova de dentes com cerdas macias e cabeça pequena para limpar eficazmente à volta do implante sem irritar as gengivas. As escovas especializadas concebidas para implantes dentários têm cerdas mais macias e cabeças ergonómicas que se adaptam melhor à estrutura oral.
- Dominar o método de escovagem: Utilize a técnica Bass - segure a escova de dentes num ângulo de 45° em direção à raiz, posicionando as cerdas parcialmente no sulco gengival e parcialmente na linha da gengiva. Vibrar suavemente em movimentos horizontais curtos (cerca de 1 mm) 10 vezes por secção, cobrindo 2-3 dentes de cada vez, e sobrepor a área de escovagem à medida que se move. Escovar pelo menos duas vezes por dia, durante pelo menos 3 minutos de cada vez.
Utilização de fio dentário, escovas interdentais e irrigadores orais
- Fio dentário: Os locais dos implantes são propensos à retenção de restos de comida entre os dentes. Deslize suavemente o fio dental para dentro do espaço e mova-o para cima e para baixo para limpar as superfícies interproximais.
- Escovas interdentais: Ideal para espaços maiores ou estruturas específicas de implantes. Escolher o tamanho adequado e mover suavemente o pincel para a frente e para trás.
- Irrigadores orais: Utiliza jactos de água de alta pressão para remover detritos e bactérias de áreas difíceis de alcançar. Utilizar uma ou duas vezes por dia para uma limpeza óptima.
Limpar a coroa do implante ou a estrutura protética
Utilize uma escova de dentes de cerdas macias para limpar suavemente a superfície da coroa ou restauração do implante. Evite ferramentas duras ou afiadas para não riscar a superfície do implante.
Ajustes no estilo de vida
Deixar de fumar
Fumar reduz o fluxo sanguíneo nas gengivas e enfraquece as defesas imunitárias, tornando os implantes mais vulneráveis a infecções. Os estudos mostram que os fumadores têm 2 a 3 vezes mais probabilidades de desenvolver peri-implantite. Deixar de fumar é essencial para manter a saúde dos implantes.
Controlo do açúcar no sangue
As pessoas com diabetes correm um risco mais elevado devido a uma circulação deficiente e a uma cicatrização mais lenta. Siga rigorosamente os conselhos médicos para manter os níveis de açúcar no sangue dentro de um intervalo normal através de monitorização e medicação regulares.
Evitar forças de mastigação excessivas
Evitar mastigar alimentos duros (por exemplo, nozes, cascas de caranguejo) com implantes. Uma pressão excessiva pode danificar o implante ou a restauração e aumentar o risco de inflamação. Escolha alimentos com uma textura moderada e mastigue uniformemente de ambos os lados.
Controlos e manutenção regulares
Exames dentários de rotina
Siga o calendário de acompanhamento do seu dentista: normalmente 1, 3 e 6 meses após a colocação do implante e, depois, pelo menos uma ou duas vezes por ano. Os dentistas avaliarão a saúde dos tecidos circundantes utilizando ferramentas como raios X e sondagem para detetar sinais precoces de complicações.
Limpeza profissional
Para além dos cuidados em casa, é essencial uma limpeza profissional regular. Os profissionais de medicina dentária utilizam ferramentas especializadas, tais como escumadeiras ultra-sónicas e curetas, para remover completamente a placa bacteriana e o tártaro à volta dos implantes, ajudando a prevenir a peri-implantite.
A peri-implantite pode desaparecer por si só?
A peri-implantite geralmente não se cura por si só, mas os casos em fase inicial podem ser clinicamente curáveis com um tratamento simples
A peri-implantite é uma doença inflamatória que afecta os tecidos moles e duros que rodeiam um implante dentário. É causada principalmente por uma má higiene oral, que leva à acumulação de placa bacteriana e de cálculo na superfície do implante. Esta acumulação desencadeia uma resposta imunitária, resultando na inflamação dos tecidos moles circundantes e na reabsorção gradual do osso alveolar.
À medida que a doença progride, a ligação entre o implante e os tecidos circundantes fica comprometida. Este dano é tipicamente progressivo e contínuo, e o corpo tem uma capacidade limitada para reparar naturalmente a inflamação e a destruição dos tecidos.
Sem uma intervenção atempada, a inflamação pode agravar-se, levando a uma maior perda óssea e à separação na interface implante-osso. Eventualmente, isto pode causar o afrouxamento do implante ou mesmo a falha total do implante. Clinicamente, quando a peri-implantite se instala, o sistema imunitário do corpo, por si só, é normalmente insuficiente para restaurar a saúde. Isto deve-se ao facto de um implante dentário ser um objeto estranho e a resposta inflamatória à volta de um implante ser diferente da dos dentes naturais. Como resultado, as capacidades de reparação do corpo são relativamente limitadas.
No entanto, nos estágios iniciais da peri-implantite - quando a inflamação ainda está confinada aos tecidos moles (mucosite) - medidas simples de tratamento podem muitas vezes alcançar a resolução clínica.